21.4.10

promoção nextel, sem limites? sem limites para quem?

Promoção sem limites? Sem limites para quem? Certamente não para os que possuam algum tipo de limitação visual.

 

Bom, agora trago para vocês, mais um artigo em caráter denunciativo.

É impressionante como este país tem a capacidade de se superar negativamente.

Como eu já disse, não acredito em nenhuma dessas promoções, mas acho que os organizadores deveriam ao menos respeitar os participantes, e os cidadãos. Fazer a coisa de modo a deixar claro que para estes indivíduos todos os brasileiros são uns idiotas, é no mínimo asqueroso.

Leiam agora o relato de um amigo que acreditou em uma dessas balelas.

Abraços,

 

Marcos André Leandro

 

 

 

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Promoção da Nextel: sem limites para descumprir o próprio regulamento

Durante a segunda quinzena de março e a primeira de abril, a empresa de telefonia móvel Nextel lançou uma promoção tendo o vocalista dos Paralamas do Sucesso, Herbert Vianna, como garoto propaganda. Muitos devem se lembrar de ter visto na TV dois anúncios, um com locução e uma fala do artista no final e outro totalmente feito por Vianna, em que o desafio de sua vida a partir do acidente que o tornou usuário de cadeira de rodas, tendo que superar limites dia após dia, era comparado ao serviço da operadora, que oferecia, digamos, uma comunicação sem limites. Uma campanha muito criativa, vale ressaltar.

Participar da promoção que fazia parte da campanha era uma tarefa bem simples, ao menos para quem soubesse cantar minimamente afinado, e sem fazer feio diante das câmeras. Pelo regulamento da promoção, a pessoa deveria fazer um vídeo em que aparecesse cantando a música "Lanterna dos Afogados", dos Paralamas, postar o material filmado no site You Tube, fazer sua inscrição no site da promoção informando o link do vídeo e aguardar até que a empresa enviasse o link para que o dono do vídeo divulgasse a promoção entre os amigos e pedisse votos para o seu trabalho. Ainda segundo o regulamento, a cada semana da promoção, os dez vídeos mais votados seriam julgados por uma comissão designada pela Nextel e empresas parceiras, de modo que o vídeo vencedor de cada semana sairia dentre esses dez. O regulamento estabelecia ainda que os vídeos que não vencessem em uma semana continuariam sendo votados e poderiam sair vencedores nas semanas seguintes. Como prêmio, os vencedores das quatro semanas da promoção receberiam uma guitarra autografada pelo Herbert Vianna, da mesma marca e modelo utilizados por ele no show, e um convite especial para uma apresentação dos Paralamas do Sucesso em local a ser definido após o fim da promoção.

Como a promoção não pedia nenhuma mirabolância, já que fazer um vídeo atualmente é uma coisa muito simples e já que eu não me considero desafinado e, sem falsa modéstia, achei que poderia dar até uma boa interpretação a uma canção da qual gosto muito, decidi participar da promoção (clique aqui i assista ao vídeo). Cumpridas as exigências e feita a inscrição, começaram os problemas. Embora a Nextel informasse, na confirmação da minha inscrição no site, que enviaria o link para a votação dentro das próximas 24 horas, isso só veio a acontecer quase 48 horas depois da inscrição. Não dei tanta importância ao fato, julgando ser um problema operacional corriqueiro e que não afetaria tanto assim a votação, desde que eu enviasse o link aos meus amigos e mobilizasse o maior número possível de pessoas para votar. Foi o que fiz tão logo recebi o e-mail da promoção com o link. Como não havia proibição de votos múltiplos pela mesma pessoa e o site não fazia restrições à votação pelo mesmo IP, recomendei aos meus amigos que votassem o quanto conseguissem, e estou certo de que os demais participantes da promoção fizeram o mesmo. Eis aí a primeira falha no sistema de votações. Como não havia restrições a votos pelo mesmo IP e como não era exigida nenhuma confirmação para o voto, algo que provasse que o voto era realmente de uma pessoa e não feito a partir de um programa de computador, a porteira ficou aberta para quem utilizasse esse tipo de ferramenta para atribuir milhares de votos de uma só vez a um determinado candidato. De minha parte, preferi distribuir mensagens via e-mail, Orkut e listas de discussão e pedir aos meus amigos que gastassem os dedos na frente do PC, clicando o quanto pudessem para colocar meu vídeo nos top 10 da semana.

A estratégia funcionou rápido. Na manhã de quinta-feira, 8 de abril, quando os meus "correligionários" começaram a trabalhar, meu vídeo chegou ao segundo lugar. No decorrer do dia, perdi várias posições e cheguei ao 29o lugar. Na noite de quinta e durante toda a sexta-feira, as posições subiam e desciam muito, mas acabei o dia em oitavo lugar. No sábado, fiquei sempre entre os top 10, até que, até para minha surpresa, cheguei ao primeiro lugar na madrugada de domingo. Mantive a posição durante boa parte do dia, até que veio a outra surpresa. No meio da tarde, enquanto eu pensava que, mesmo não ficando em primeiro, poderia me sustentar bem entre os top 10, fui informado por um amigo que meu vídeo estava em 61o lugar. Como dizemos lá em Minas, pera aí: como assim, cair 60 posições em meia hora? Deve haver algum erro. Mas não havia, ao menos não na indicação da posição. Por mais que pressionássemos F5 e atualizássemos a página, a minha posição continuava lá, em 61o lugar. Depois, fui informado de que eu havia chegado até ao 72o lugar, mas não testemunhei o fato.

Mas o leitor pode estar se perguntando: e você, o principal interessado, não estava votando? Eis aí o segundo grande problema do processo desenvolvido pela Nextel. Para votar, era preciso clicar no quadradinho verde à direita do vídeo. Ocorre que o tal quadradinho verde não tinha qualquer etiqueta que fosse percebida pelos programas de leitura de tela que nós, cegos e pessoas com baixa visão, utilizamos para acessar o computador. Assim, a única coisa que eu pude fazer foi pedir aos meus amigos que se esforçassem em dobro, para que pudessem votar também por mim. Isso mesmo! Eu não pude votar no meu próprio vídeo.

Quando eu me vi em 61o lugar, já começando a duvidar da lisura do processo de votação, mas ainda com esperança de vencer, disparei mais e-mails e mais mensagens no Orkut para que os meus amigos voltassem a se dedicar e votar o quanto pudessem até a meia-noite de domingo para segunda, 11 para 12 de abril, que era a hora marcada para o encerramento da votação. Deu certo mais uma vez. Meu vídeo foi ganhando posições, de modo que estava em 17o lugar às 21h30, em sétimo às 22h e chegando ao terceiro lugar às 22h30, mantendo a posição às 23h. Pensei comigo mesmo que estávamos salvos. Afinal, depois de recuperar tantas posições nesse período, não era possível que ficássemos fora dos top 10. Depois das 23h30 de domingo, cheguei a figurar em segundo lugar. Enfim, era só esperar a lista final dos dez vídeos e torcer para que a comissão julgadora escolhesse o meu trabalho. Vale lembrar que eu me inscrevi apenas na quarta etapa da promoção, de modo que só concorri uma vez. Pelo regulamento, o vencedor da quarta semana, da qual eu estava participando, seria conhecido na terça-feira, 13 de abril, exatamente 24 horas depois do fim da votação.

Por volta das 23h47 de domingo, dia 11, começaram os problemas que, definitivamente, me fizeram duvidar totalmente da integridade do processo e, por conseguinte, dos organizadores da promoção. Depois de estar praticamente inalterada desde as 22h30, a lista dos top 10 que aparecia no site estava mudando a cada dois minutos. Às 23h50, meu vídeo ainda aparecia entre os top 10, mas já em nono lugar. Estranho? Sim, mas não é tudo. A própria lista sofria variações tais que pessoas que não estavam figurando entre os top 10 apareciam agora em segundo lugar. Às 23h53, a lista era totalmente diferente da anterior e, como num passe de mágica, meu vídeo não estava mais listado entre os top 10. Às 23h56, a lista dos top 10 se tornou indisponível e não mais retornou ao site da promoção. Segundo os meus amigos que estavam votando, por volta de 23h48, já não era mais possível votar e os 12 minutos antes da meia-noite foram uma sussessão de alternâncias na lista dos top 10 até o seu desaparecimento do site. Isso eu próprio comprovei, porque, antes, ao acessar o link do meu vídeo, eu conseguia assistir, mesmo não podendo votar. Depois das 23h48, isso não era mais possível. O pior é que a lista dos top 10 não apareceu de novo e eu não poderia saber com certeza se, no final das contas, meu vídeo iria ou não ser um dos dez analisados pela comissão julgadora.

O negócio então era torcer e esperar a terça-feira quando, pelo regulamento, o resultado seria conhecido. Mas me parecia estranho o fato de não sabermos quem eram os top 10. Também pelo regulamento, os dez vídeos mais votados seriam submetidos a uma auditoria para evitar que uma votação por meio fraudulento classificasse qualquer trabalho. Pensei que, uma vez concluída a tal auditoria, a lista dos top 10 voltaria para o site da promoção e seria possível saber quais seriam os dez vídeos julgados pela comissão.

À 1h20, portanto 80 minutos depois do encerramento da votação, voltei ao site da promoção para saber se a lista dos dez mais votados já havia sido colocada no ar. A lista não estava lá, mas... mas... mas o vencedor da semana sim, já havia sido anunciado! Mais uma vez, minha frase foi a mineiríssima "pera aí"! Deixa eu entender: quer dizer que, em 80 minutos ou menos, a tal comissão julgadora, que certamente já estava reunida, analisou criteriosamente dez vídeos, submeteu-os a uma auditoria técnica para ter certeza de que nenhum dos autores havia fraudado o processo de votação e chegou a um veredito, a ponto de publicar o resultado no site? Ora, se eu acreditar nisso, voltarei a crer na existência do Bom Velhinho e nos contos de fada que meus pais me narravam antes de dormir!

Indignado com as minhas suspeitas, agora convertidas em certeza, de que o processo de escolha dos vencedores na promoção da Nextel não passava de um jogo de cartas marcadas, comecei a vasculhar a internet atrás de pessoas que também pensassem assim. Me deparei então com a mensagem de um internauta dirigida ao site "Reclame Aqui", provando que era possível atribuir qualquer quantidade de votos de uma só vez a qualquer candidato, bastando para isso rodar um script em um servidor PHP. O internauta chegou inclusive a escrever linha por linha da rotina que poderia atribuir, por exemplo, mil votos a um dos vídeos inscritos na promoção. A Nextel chegou a responder, afirmando que havia corrigido o problema na quarta semana da promoção, limitando os votos a um por endereço IP. Nada mais inverídico! Se assim o fosse, meus amigos não teriam conseguido, clicando e dando F5 para atualizar a página, votar centenas ou até milhares de vezes no meu vídeo. O internauta desafiou a Nextel a mostrar o número de votos de cada vídeo, o que a empresa disse que se reservava o direito de não divulgar. É evidente, porque se tais números fossem divulgados, constataríamos as quantidades astronômicas de votos dadas a cada vídeo, o que comprovaria não só a possibilidade de votação repetida sem qualquer trava de segurança, como a continuidade da possibilidade de se votar por programas de computador, os chamados scripts.

Mas, mesmo diante da fragilidade do sistema, fica difícil acreditar que a própria Nextel ou as empresas parceiras não tenham influenciado no resultado do concurso, dadas algumas alternâncias absurdas nas posições dos vídeos concorrentes durante o processo de votação, como na tarde do domingo e nos minutos que antecederam o fim do prazo para votar. Como disse a um amigo alguns dias atrás, eu não me importo de ser enganado, desde que o enganador aja com inteligência, de modo que eu não perceba suas ações. Se, ao longo do domingo, dia final da votação, as posições fossem sendo trocadas aos poucos, de modo que o meu vídeo fosse perdendo posições gradativamente, eu acreditaria que a mobilização dos outros candidatos era melhor do que a minha e, portanto, eles realmente tinham mais força. Eu só lamentaria a derrota, mas a consideraria limpa. Mas, diante da maneira como os fatos se deram, não consigo, de modo algum, acreditar na lisura do processo de votação no qual se baseou o concurso. Me senti enganado, e de forma amadora.

Já disse no post de ontem e repito: como participante da promoção, tenho interesses a defender e vou defendê-los. Como jornalista, tenho a obrigação moral de estabelecer o contraditório em tudo o que publico. Assim, este blog está à inteira disposição da Nextel ou de qualquer outra empresa ou pessoa envolvida na organização da campanha "Não Tenho Limites", para que possam se manifestar e dar suas explicações. Ressalto ainda qe, sempre que eu apresentar réplicas a essas explicações, continuarei dando o direito à tréplica, porque creio ser assim que se faz um bom jornalismo e, embora este blog seja também de caráter pessoal, quero manter firme o compromisso que assumi ao abraçar essa profissão, da qual muito me orgulho.

Fica portanto para os meus leitores a minha versão dos fatos sobre a promoção da Nextel "Sem Limites com Herbert Vianna". Aguardemos o outro lado.

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