21.4.10

"Direito a gente conquista e mantém no grito", diz professora cega

"Direito a gente conquista e mantém no grito", diz professora cega
aprovada em concurso no MS

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*RODRIGO VARGAS*
da *Agência Folha*, em Cuiabá

Telma Nantes de Matos, 43, é a atual presidente do instituto de cegos de
Mato Grosso do Sul e a vice-presidente da Organização Nacional dos Cegos
do Brasil. Portadora de retinose pigmentar, uma doença degenerativa que
a deixou cega entre os 17 e os 27 anos de idade, ela diz ter sido
"surpreendida" com a negativa da Prefeitura de Campo Grande à sua
nomeação <http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u723112.shtml>.

Em 19 de fevereiro, Matos chegou a ser oficialmente convocada e nomeada
pela prefeitura, mas o ato acabou revogado após um parecer técnico de
uma equipe multidisciplinar convocada pela Secretaria de Educação, que a
desclassificou por "inaptidão" ao cargo.

Nesta segunda, o prefeito Nelson Trad Filho (PMDB) definiu como
"difícil" a possibilidade de designar uma turma de "20 crianças no
berçário a uma pessoa cega". "Você colocaria sua filha de zero a quatro
anos para uma pessoa com deficiência visual cuidar?", perguntou o
peemedebista a jornalistas. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de
Mato Grosso do Sul propôs uma ação na Justiça Federal pedindo que a
prefeitura dê posse imediata à pedagoga cega.

*

*/FOLHA/* - Imaginou que teria problemas ao se inscrever no concurso?

*/MATOS/* - Ao contrário, eu sempre pensei que iria ter portas abertas.
Sou formada, graduada e pós-graduada, atuo na educação há tempos,
desenvolvo trabalhos de gestão e tenho vários projetos executados em
Mato Grosso do Sul.

*/FOLHA/* - A prefeitura diz que você é inapta para o cargo.

*/MATOS/* - Eu acho que a prefeitura mexeu com a pessoa errada. Sou
militante, atuante e uma grande incentivadora de que as pessoas com
deficiência conquistem formação acadêmica e espaço no mercado de
trabalho. Dirijo um instituto com mais de 200 deficientes em processo de
educação e sou aquela que sempre diz: 'vamos estudar, vamos nos
capacitar, vamos ter autonomia e independência'. Então, para mim, foi um
processo muito triste.

*/FOLHA/* - Como avalia as afirmações do prefeito Nelson Trad Filho?

*/MATOS/* - Amigos me ligaram e disseram: 'Telma, olha o que falaram de
você'. Quando fui olhar a notícia no meu computador, era algo para
chorar. Acho que as pessoas precisam entender que os deficientes são
pais, mães e avós. Cuidam de crianças. Se o prefeito acha que hoje não
há condição para eu assumir uma sala de aula, que trate então de adequar
um espaço em que eu consiga.

*/FOLHA/* - Havia alguma restrição prevista no edital do concurso?

*/MATOS/* - Não constava restrição, pelo contrário, apenas a reserva de
vagas para deficientes. Eu fiz a inscrição, fiz a prova no computador
com meu leitor de tela, acertei 75% das questões e depois soube que,
considerando a cota de vagas para deficientes, eu havia sido aprovada em
primeiro lugar. Quando veio a recusa, eu tinha que gritar e chorar
mesmo, senão iria ficar com muita vergonha. Tinha que dar o exemplo para
outros aprovados no concurso: se excluírem você, grite, não vá se calar.
O direito a gente conquista e mantém no grito.

*/FOLHA/* - Seria capaz de assumir uma sala de aula com crianças?

*/MATOS/* - Conseguiria. Há diversas atividades que eu posso
desenvolver, como contar histórias e interpretação. E você já pensou
como seria maravilhoso uma criança ter a oportunidade de conviver com
uma professora cega? Ver aquela pessoa pentear o cabelo dela? Já
imaginou como será essa pessoa que desde pequena aprendeu a conviver com
a diferença?'

*/FOLHA/* - A prefeitura não mencionou qual será a sua função?

*/MATOS/* - Eu não sei o que vão fazer comigo. Estou à disposição do
município, tenho o meu currículo e eles podem me encaixar onde acharem
melhor.
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Realmente, é como eu disse anteriormente, este país, não tem mesmo limites. Quando se trata de discriminar e agir com preconceito, realmente não tem limites.
Fico até sem palavras para expressar minha indignação para com este fulano.
Mas vamos em frente ao som daquela música que diz:
"Lá vem o Brasil, descendo a ladeira..."
...
"E o motivo todo o mundo já conhece: é que o de cima sobe, e o de baixo desce..."
...
"Isso aqui, oh oh, é um pouquinho de Brasil iá iá,..."
 

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