10.8.10

Hora de reler este artigo de Luiz Leitão

Te absolvo

 

O deputado Sérgio Ivan Moraes (PTB-RS), embora até ontem ilustre desconhecido do público em geral, não é nenhum neófito em política – "tenho sete mandatos e seis filhos, minha mulher é prefeita (Kelly Moraes, de Santa Cruz do Sul-RS)".

 

Fundador do partido no Rio Grande do Sul, duas vezes prefeito de Santa Cruz do Sul, dois mandatos de vereador e deputado estadual, Moraes estreou na Câmara dos Deputados na atual legislatura empregando irmã e sobrinho em seu gabinete, exonerados após a súmula do nepotismo entrar em vigor.

 

Com toda essa bagagem nas costas, o moço cometeu o desatino de pisotear o princípio básico segundo o qual o voto não aceita desaforo que não venha cuidadosamente embalado com o papel do eufemismo, ao bravatear que está se lixando para a imprensa e a opinião pública, esquecendo-se que foi o conceito que o respeitável público tinha a seu respeito que lhe permitiu angariar os sete mandatos dos quais se jactou perante um País atônito com a falta de lhaneza do até então incógnito emergente do baixo clero.

 

Para começo de conversa, no mínimo em observância às preferências da maioria dos seus 86.299 eleitores que certamente reprovam a sua aguerrida defesa do deputado mineiro Edmar Moreira e muito apreciariam vê-lo julgado com a pitada de isenção que o relator Moraes recusa à causa quando despreza sumariamente os argumentos da comissão de sindicância.

 

Foi assim, com esse quê de arrogância que o deputado mineiro dono do castelo cuja posse era mantida longe das vistas do fisco acabou apanhado na malha fina da opinião pública e, por conseguinte expulso do Partido Democratas, corre o quase desprezível risco de perder o mandato, e acaba de tornar-se réu em ação penal pela suposta autoria de crimes contra a ordem tributária e de apropriação indébita de contribuições previdenciárias, em decisão unânime dos ministros do Supremo Tribunal Federal.

 

A virulência verbal do deputado Moraes em sua investida contra tudo e contra todos os que ousam exigir-lhe um mínimo de transparência e imparcialidade no julgamento de um de seus pares, misturando alhos e bugalhos - "Pouca vergonha são aqueles que nunca concorreram a nada se intitularem patronos da ética e da moral, é um jornal que não recolhe impostos, é bater no trabalho infantil e usar crianças em novelas" – foi uma deplorável demonstração do conceito de "posse" que alguns parlamentares têm do mandato de representação popular.

 

O espetáculo só não foi mais degradante graças aos dois outros integrantes da comissão de sindicância, Hugo Leal (PSC-RJ) - "Tem de dar continuidade ao processo. Estou esperando um plano de trabalho. Este é um colegiado que analisa a conduta ética do deputado" – e José Carlos Araújo (PR-BA),  presidente do Conselho - "a obrigação do Conselho é apurar tudo que está na representação da Mesa Diretora, feita com base na comissão de sindicância".

 

Luiz Leitão

luizmleitao@gmail.com

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